“Eu poderia ter dito sim, se arrependimento matasse...”
Durante alguns minutos, enquanto Marina contemplava seu reflexo no espelho, esse era o pensamento que mais atormentava sua mente.
Permitir-se, esse sempre foi o grande problema dela. Limitava-se a aceitar levar a mesma vida parada e remota de sempre, jamais passou pela sua cabecinha a possibilidade de se envolver em algo novo.
"Uma simples palavra tem o poder de mudar tudo, como entender isso, como posso aceitar que tudo poderia ser diferente neste exato momento"
Não era a primeira vez que ela repetia o ritual de auto-análise diante do espelho, geralmente, fazia isso todas as vezes que se decepcionava consigo mesma.
“Eu sou responsável pelas minhas escolhas, sei das consequências e a culpa é toda minha...”
Era o que ela pensava com uma sensação de que iria sufocar a qualquer momento. Por alguns segundos tentou ser forte mais não resistiu, sentiu quando a primeira gota de lágrima passou a rolar lentamente pelo seu rosto ainda maquiado. Lá estava ela mais uma vez perdida nos mesmos soluços amargos de sempre...
“Eu sei exatamente porque disse não, eu sei... eu sei... só eu sei.”
Não era de se estranhar que agora Marina estivesse tentando se justificar, ela sempre fazia isso depois de chorar compulsivamente. A terapia do espelho sempre funcionava e o alívio vinha quase que instantaneamente.
“O que eu preciso agora é dormir. Vou dormir pra esquecer de mim.. Vou dormir pra esquecer dessa noite... vou dormir pra esquecer do mundo.”
Ela apagou a luz do quarto e antes mesmo de tirar a roupa da festa se jogou na cama e dormiu.
